O Briefing Editorial

Um modelo de briefing para a criação de capas de livros com as informações mais relevantes para ajudar um designer editorial a atingir um ótimo resultado.

A pauta que dá início ao projeto de design editorial é o documento que chamamos de briefing.

Através do briefing feito pela editora, os capistas recebem todas as informações para criar a capa de livro ideal para a publicação. Infelizmente, muitas editoras não elaboram uma pauta inicial de qualidade. 

Isso é quase natural. Muitos editores — profundos conhecedores na área de edição de texto — tem muita dificuldade em lidar com os elementos não-textuais de uma produção editorial (design, fotos e ilustrações). Muitos não receberam, em sua formação, conhecimentos sobre comunicação visual, design gráfico, fotografia, ilustração ou marketing.

Sem um briefing minimamente eficiente, o capista trabalha às cegas, sem rumo. Não sabe os objetivos comerciais da publicação, não sabe qual o perfil do público-alvo e não tem ideia das expectativas comerciais ou estéticas dos próprios editores. 

O resultado é a ineficiência: muito retrabalho, muito desgaste pessoal e profissional e prazos desnecessariamente dilatados. E tempo é dinheiro.

Exemplos de briefings no universo editorial

Para ilustrar, veja abaixo alguns briefings que costumo receber do departamento editorial para criar capas de livros (infelizmente são reais, colecionados em mais de 20 anos de atuação):

• Briefing “NENHUM”
“Temos apenas o nome do autor e este título. Mas ele provavelmente vai mudar, tá? Dá para fazer dois layouts de capa para segunda-feira?”

• Briefing “ARCO-ÍRIS”
“Rubens, só queremos algo bem colorido pra capa, tá?”

• Briefing “CLIMA-TEMPO”
“Queremos uma capa que não seja muito fria, mas também que não seja muito quente…”

• Briefing “EMOÇÕES”
“Queremos uma capa que passe aquele sentimento, sabe? Que, sei lá… que toque as pessoas…”

e o pior deles:

• Briefing “PPT”
“Rubens, o autor já passou um Power Point do que ele quer para a capa. É só você seguir…”

A importância do briefing

Na verdade, como sempre digo, a capa de livro é o principal elemento de toda a divulgação comercial de uma publicação, além de trazer ao leitor a primeira impressão quanto à qualidade editorial da obra. É um elemento decisivo para o sucesso nas vendas da publicação, para a relação da editora com seus leitores e até para a imagem corporativa da editora frente a colaboradores, livreiros e até concorrentes.

Para tentar auxiliar editores e produtores editoriais a montar um briefing eficiente para seu capista, segue uma sugestão de estrutura. Este modelo ajudaria o designer editorial a ajudar a própria editora a chegar mais rápido aos resultados esperados — e com menos desgaste de todos.

Aqui entre nós, este tipo de briefing vai ajudar os próprios editores a pensar em seus lançamentos de forma mais técnica e comercial e menos intuitiva ou artística.

Modelo de briefing para Capas de Livros

A) Informações editoriais

Área/Assunto:
Título do livro:
Autor (es):
Subtítulo (texto explicativo de caráter editorial):
Chamada (texto informativo de caráter comercial):
Outros textos frontais: (chamadas, citações, destaques…):
Outros elementos (logotipos, selos…):


B) Informações técnicas

Tamanho do livro: A x L (mm)
Encadernação: brochura com orelhas, capa dura, capa flexível, espiral, grampo. Inclui luva ou cinta?
Número de páginas estimado: (para previsão de lombada)
Tipo de impressão em cores: 4×4, 4×0, 4×1, 1×1, 2×0 etc


C) Informações comerciais

1. Público-alvo ideal: Alguma característica especial no perfil do leitor que teria mais probabilidade de sintonizar com o conteúdo do livro? Sexo/gênero, faixa etária (intervalo de no máximo 6 anos), escolaridade, classe social, hobbys, hábitos, profissão específica, desejos, problemas, frustrações, ambições ou necessidades específicas?

Exemplos:
NÃO-FICÇÃO: meu público prioritário são mulheres na faixa de 28 a 33 anos de perfil independente com formação superior e da classe A/B. O foco são profissionais liberais que tenham filhos e encontram grande dificuldade em equilibrar a vida profissional com a vida familiar. É uma mulher já acostumada a comprar livros de desenvolvimento pessoal de autores como Augusto Cury, Roberto Shinyashiki entre outros.

FICÇÃO: meu público prioritário são jovens entre 19 e 24 anos, espírito aventureiro, sexo masculino, de perfil geek que adoram tecnologia e personagens cult. São certamente leitores de livros como Neuromancer, Guia do Mochileiro das Galáxias e Senhor do Anéis. No cinema, são fãs de Star Wars e filmes da Marvel Comics.


2. Posicionamento/estratégia da editora: o posicionamento comercial em relação à publicação.

Com que imagem a editora quer “vender” o livro para o público?

Exemplos: O mais polêmico livro deste autor;  O primeiro livro sobre o assunto; Uma nova e revolucionária visão sobre este tema, O mais atualizado e completo livro sobre o assunto; Um livro delicado e sensível que vai te emocionar, Um livro de paixões intensas e relacionamentos desajustados, O livro mais antigo e tradicional sobre o tema, etc

Outras perguntas importantes a serem respondidas em relação a posicionamento:
Qual o diferencial da publicação em relação à livros do mesmo segmento?
Qual o principal conceito que o livro passa a seus leitores? Qual a transformação positiva que a obra provoca no leitor? (no caso de livros para desenvolvimento profissional ou pessoal)


3. Expectativas da editora: orientação e/ou recomendações gerais da editora para que o designer compreenda a visão da editora ou do autor sobre a capa.

Exemplos:

Imaginamos uma capa bem alegre, convidativa, que o leitor enxergue as soluções para seus problemas mais imediatos”;

O livro deve parecer bem jovial, contemporâneo, pois a obra traz ideias bem disruptivas — imaginamos que a capa deva ter uma linguagem bem atual, mais ousada.”;

Acho que o título deve ser bem chamativo pois é uma frase bem incomum. No geral, imagino algo mais tradicional, clássico, coerente com o perfil do leitor dessa obra”;

Gostaria que o leitor percebesse logo de cara que é uma obra mais sensível e leve. Quero uma capa mais limpa, sem muitos elementos, algo elegante”.


4. Referências: imagens ou links com livros concorrentes ou até livros de outros segmentos que a editora ache interessante para o designer entender o caminho e a estratégia visual que o editor busca para a capa e para a identidade visual do livro. O uso da referência visual é sempre bom, pois muitas vezes o editor sequer conhece a terminologia correta para explicar ao seu capista suas intenções em relação ao visual da obra.


5. Anexos: são os arquivos digitais com texto de apresentação e/ou prefácio e o sumário da obra. O ideal é mandar o briefing ao seu designer sempre com esses textos (mesmo que não sejam ainda definitivos) pois eles já resumem a visão da editora em relação à obra. E é essa visão que o designer capista deve traduzir em linguagem visual.

Rubens Lima

rubens Lima

São quase 30 anos de experiência na produção de livros para tradicionais editoras do mercado e autores independentes. Rubens é um profissional com centenas de capas publicadas e, por três vezes, jurado do Prêmio Jabuti, a premiação de maior prestígio no mercado de livros. Formado pela FAU-USP, é pós-graduado (MBA) em Book Publishing (Edição de Livros) e professor de Design Editorial.

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