Hoje, produzir um livro independente é uma realidade. Ou seja, a ideia de um autor produzir e publicar seu livro, sem passar pelo desanimador processo de aceitação ou aprovação de editoras tradicionais, está cada vez mais acessível a todos!
Mas, isso não quer dizer que transformar seu texto no produto chamado livro seja tarefa fácil. Para conseguir um resultado de qualidade, atingir seus objetivos e também vender mais livros é preciso conhecer um pouco sobre o processo de criação/produção de um livro. O objetivo deste artigo é justamente explicar cada uma destas etapas:
Criação e produção de um livro de não ficção independente
A. Planejamento
B. Criação
C. Identidade
D. Diagramação
E. Formalização
F. Revisão
G. Impressão/publicação
A. Planejamento
Diferente do que muitos autores e autoras de não-ficção imaginam, o processo de criação não se inicia com o escritor sentando-se à frente de seu notebook, abrindo o processador de texto e começando a escrever.
Para ter um livro de qualidade com chance de sucesso, é preciso passar antes pela importante etapa de planejamento!
Nesta fase são estabelecidas as premissas essenciais que formarão a linha mestre de todo o projeto: a definição dos propósitos e objetivos do autor com a publicação da obra, a escolha do tema e do assunto específico, a identificação do público-alvo (o perfil do leitor), a definição do valor/benefício palpável a ser entregue ao leitor, a análise de mercado e dos concorrentes, a definição de tom, linguagem e ritmo e a construção da estrutura básica de conteúdo (lista ordenada dos temas e capítulos).
B. Criação
Depois do planejamento feito, agora é que entra o processo de escrita propriamente dito. Sim, o livro é escrito baseado em suas predefinições da etapa de planejamento. Informação vira inspiração. Assim, escrever deixa de ser uma batalha terrível contra a folha em branco.
O processo de escrita normalmente se inicia com a construção de uma primeira versão, um draft do livro todo, uma versão “bruta” do texto. Esta primeira fase é apenas para colocar as ideias no papel, sem bloqueios ou excesso de autocrítica. Após a conclusão deste primeiro texto (a matéria-prima de seu livro), o autor ou autora inicia a fase de refinamento, ou seja, uma sequência de releituras e ajustes de seu texto, melhorando a clareza e fluência de leitura, deixando os parágrafos e sentenças mais objetivas e, principalmente, cortando os excessos e as redundâncias.
Na primeira fase (texto bruto) a autora ou autor irá focar apenas em suas ideias, no conhecimento que deseja transmitir e em seu conteúdo. Na segunda fase, de refinamento, o foco principal se desloca das necessidades do autor (seu conhecimento e suas experiências) e passa para as necessidades do LEITOR! O objetivo desta fase é editar o texto e aprimorar o conteúdo até que fique compreensível, atraente e muito interessante para o perfil de público específico do livro.
Apoio extra
Nesta sequência de aprimoramento de seu texto original (refinamento), o autor ou autora pode ser auxiliado(a) por um profissional chamado(a) preparador(a) de originais ou editor(a) de texto. Em muitos casos esse auxílio é imprescindível. O papel deste preparador/editor é padronizar e uniformizar estilos (citações, itemização, diálogos, notas, tabelas, legendas, sinais gráficos, itálicos, negritos etc.); ajustar e organizar o texto (sentenças e parágrafos) para melhorar sua fluidez, facilitando a leitura e sua compreensão pelo leitor e fazer ajustes de coesão e de coerência, eliminando ambiguidades indesejáveis. Além disso este(a) profissional fará a primeira varredura e correção de possíveis erros de ortografia e gramática. Este serviço é conhecido no mercado como preparação de texto ou copydesk (ou sua forma aportuguesada “copidesque”).
C. Identidade
A etapa de identidade é a criação do perfil de produto e do posicionamento comercial de sua publicação. É a definição de como seu livro irá se apresentar ao seu público-leitor e ao mercado editorial (lojas e livrarias).
É a etapa mais importante para a efetiva venda de seu livro e pode ser feita em paralelo à edição e preparação de texto. Ou seja, não é preciso acabar de editar o texto do livro para começar a criar sua “embalagem“.
O foco desta fase é a criação dos elementos que transmitem a identidade comercial da obra:
- Criação da capa do livro;
- Escolha do Título e Subtítulo;
- Criação do Texto de Apresentação.
Este último é o texto comercial que vai convencer o leitor sobre a necessidade de ter seu livro em sua estante. Este texto será aplicado tanto na contracapa do livro como na páginas de livrarias online como a Amazon. Se você fez uma boa fase inicial de planejamento, compreendendo o valor, o diferencial e a real entrega de seu livro, além de entender as necessidades e anseios de seu público em relação ao seu tema, fica muito mais fácil redigir este texto.
É importante criar a identidade comercial de sua publicação no princípio do processo, pois assim será possível começar a pré-divulgação do livro. Sim, tendo principalmente o título e a capa, já é possível falar sobre seu livro nas redes sociais e começar a atrair os leitores interessados no que sua obra entrega. Com isso você já vai criando o clima e a expectativa para o lançamento, bem antes de ter o livro pronto. O ideal é iniciar a divulgação de seu livro entre um a dois meses antes de efetivamente publicá-lo.
D. Diagramação
Enquanto a capa é um elemento da identidade comercial de seu livro, conectado muito mais à marketing e vendas e focado em atrair e conquistar o leitor, a parte interna do livro (também chamada de “miolo”) é puramente editorial, focada em apresentar da melhor maneira o conteúdo do livro.
A capa tem como objetivo a venda do livro, já o projeto do miolo da publicação tem por objetivo fazer o leitor ter uma excelente experiência após a compra do livro. Em outras palavras, a capa é um elemento de pré-venda enquanto o miolo é um elemento de pós-venda.
A capa é a referência visual para a o projeto das páginas internas de seu livro. Por este motivo, você deve finalizar a capa de seu livro ANTES da diagramação, para que o miolo possa seguir a linguagem visual da capa, formando um objeto único.
Um bom projeto interno do livro tem três objetivos principais:
- organizar e dar legibilidade à sua obra, ou seja, dar ao leitor uma leitura agradável, natural e sem esforço.
- dar ao miolo identidade compatível com o segmento, tema e assunto do seu livro, mas evitando o excesso de distrações visuais que atrapalhem o foco no texto (pecado comum entre muitos diagramadores).
- fazer com que a parte interna tenha coerência visual com a linguagem da capa, tornando o livro um objeto único.
Portanto, é nessa etapa é que temos as seguintes definições:
- a tipologia (fonte) para o texto e títulos
- os tamanhos e pesos das fontes (hierarquia visual)
- as margens da página e o tamanho da mancha de texto
- os espaçamentos: entrelinhas, entre parágrafos, recuos e indentações
- os elementos visuais que podem ajudar a organizar a página
O processo
Ao produzir um livro, designer que criou o projeto visual da capa pode também criar o projeto do interior do livro e, em sequência, diagramar as páginas seguindo o padrão visual criado. Ou a diagramação das páginas pode ser realizada por um profissional específico, o diagramador.
Para a diagramação de um livro impresso de qualidade profissional, não se usa um editor de texto como o Microsoft Word. Na verdade, usa-se um software específico de editoração de livros tanto para o projeto visual como para a efetiva diagramação das páginas do miolo da publicação. O mais utilizado no mercado editorial profissional é o Adobe InDesign. Através deste software será gerado um primeiro arquivo do miolo do livro em PDF para revisão. Após as revisões e ajustes, o diagramador vai gerar (também pelo InDesign) o arquivo final, ou seja, a arte-final do livro para impressão.
O InDesign é muitas vezes utilizado também para realizar uma diagramação prévia da versão digital do livro (ebook) para, em seguida, exportar-se um arquivo no formato ePub. Finaliza-se o processo de diagramação do livro digital em um software específico para edição de arquivos ePub e formatação de e-books. O mais popular entre os profissionais é o Sigil, um software de distribuição gratuita.
E. Formalização
Catalogar sua obra faz parte do processo de produção de um livro independente. Sim, isso ajuda a encontrar seu livro de maneira mais fácil e, principalmente, é crucial para que sua obra não pareça amadora demais. Para isso é preciso realizar a solicitação do ISBN do livro e da Ficha Catalográfica.
ISBN
O número do ISBN é a identidade de seu livro. Essa identificação ajuda sua obra a ser catalogada formalmente. Dessa maneira, o leitor poderá encontrar sua obra mais facilmente em livrarias e distribuidores offline e online. Este número de identificação de seu livro, o ISBN, será usado na própria ficha catalográfica dentro do livro e também no verso da capa, na forma de um código de barras.
Já há algum tempo, você pode obter o ISBN pela internet. A partir de março de 2020, a administração do ISBN deixou a Biblioteca Nacional e ficou sob responsabilidade da Câmara Brasileira do Livro (CBL). Veja mais informações sobre o ISBN e como se cadastrar neste link no próprio website da CBL.
A Agência do ISBN recomenda que a versão impressa e a versão digital de seu livro tenham ISBNs diferentes para correta catalogação (pois são versões de um mesmo produto com entregas, formatos e preços diferentes). O mesmo raciocínio serve para o audiolivro: seria necessário um terceiro ISBN para essa versão.
Ficha Catalográfica
A Ficha Catalográfica é obrigatória por Lei Federal para todas as publicações impressas não periódicas. Nela temos informações como:
- Título do livro
- Nomes dos autores
- Nomes de colaboradores como ilustradores e tradutores
- Data da publicação
- Local da publicação
- Nome da empresa (PJ) ou pessoa (PF) responsável pela publicação
A ficha catalográfica deve ser preparada e assinada por um(a) bibliotecário(a) responsável, matriculado(a) no Conselho Regional de Biblioteconomia. Hoje em dia, a CBL também presta esse serviço, ou seja, a instituição prepara e entrega a ficha catalográfica de seu livro em um arquivo PDF. Com este arquivo em mãos, o diagramador vai inserir as informações da ficha catalográfica, de maneira padronizada, na mesma página onde ficam os créditos de produção da obra (normalmente no início do livro, no verso da folha de rosto principal).
F. Revisão
É neste material, formatado e diagramado que será realizada a revisão. Sim, diferente do que muitos imaginam, a revisão não é feita no original em Word, mas no PDF do livro já diagramado.
O(a) revisor(a) é o profissional responsável por esta atividade. Sua missão é fazer a última varredura no livro, corrigindo possíveis erros de ortografia e/ou gramática que tenham passado nas fases anteriores de preparação/edição de texto. Seu objetivo é minimizar ao máximo a ocorrência de incorreções no texto.
O profissional também faz a conferência do conteúdo do livro em relação ao sumário, checa números de página, cabeçalhos e as aberturas de capítulos. Além disso, vai verificar o padrão de diagramação (recuos, linhas orfãs, viúvas, forcas, espaços duplos, linhas duplas etc.).
Normalmente, o livro diagramado passa por duas revisões.
Dica: De preferência, em vez de contratar professores de português ou jornalistas, contrate um profissional do mercado editorial, alguém com experiência anterior específica em livros e que conheça bem o mercado livreiro.
G. Impressão / Publicação online
É a última etapa do processo de produzir um livro independente.
Caso você esteja produzindo apenas um e-book (livro digital) e você já tenha o livro diagramado e revisado no formato de arquivo ePub e o arquivo da capa frontal em arquivo JPG (72 dpi), é possível publicá-lo diretamente na Amazon com muita facilidade. Publicar um e-book é simples e rápido utilizando a ferramenta de publicação da empresa: o KDP (Kindle Direct Publishing).
Agora, se você planejou ter também a versão impressa de seu livro é hora de pensar no tipo de impressão que fará. Os arquivos em PDF da capa e do miolo do livro são impressos separados, pois são impressos em papéis diferentes. Em seguida, capa e miolo são unidos pela lombada. O tipo de conexão da capa com o miolo dependerá do tipo de encadernação que escolherá para seu livro. Abaixo, algumas opções:
- brochura (com ou sem orelhas)
- capa dura
- capa flexível
- espiral
- grampo
Impressão Offset x Digital
Por causa de suas grandes máquinas e caros insumos, indica-se a impressão offset apenas para grandes tiragens, acima de 1.000 exemplares. Normalmente, são as editoras que trabalham com essas tiragens. Para elas, o uso de grandes gráficas offset compensa bastante, pois quanto maior a tiragem menor o custo unitário da impressão do livro.
Para os autores independentes, fazer uma impressão offset significa investir antecipadamente em milhares de exemplares. Portanto, isso representa um investimento inicial mais alto e um risco maior. Ao mesmo tempo, a maioria dos autores independentes tem dificuldade em arranjar espaço para estocar caixas e mais caixas de livros. Sem contar a pressão psicológica de ver, todos os dias, livros e mais livros que você vai precisar vender para reaver o alto investimento.
Uma opção mais adequada ao autor independente seria a impressão digital. O custo unitário por livro é certamente maior, mas o autor pode imprimir os livros em pequenas tiragens de 50, 100 ou 300 livros, conforme sua necessidade. Isto é, ele pode fazer pequenos investimentos por vez. Caso esgote sua primeira tiragem, basta imprimir mais exemplares em uma nova pequena tiragem.
Impressão sob demanda
Uma opção interessante seria a impressão sob demanda (POD – Print On Demand). Existem empresas especificas no mercado, que são plataformas de publicação (UmLivro, Bok2, UICLAP, Clube de Autores, entre outras). Elas disponibilizam seus livros em livrarias online (Amazon Brasil, Estante Virtual etc), livrarias próprias da plataforma e também marketplaces (Americanas, Submarino, Mercado Livre etc) e imprimem seu livro apenas quando são vendidos, um a um. Eles não só imprimem, mas se responsabilizam pela embalagem, manuseio e distribuição de cada livro vendido e pagam ao autor royalties de 20 a 30% sobre o preço de capa do livro (preço final ao consumidor). É uma maneira de fazer seu livro impresso chegar a seus leitores sem ter que investir diretamente na impressão e distribuição. Vale a pena pesquisar e saber mais sobre este tipo de plataforma.
KDP da Amazon
O sistema da Amazon, o KDP (Kindle Direct Publishing), também faz impressão sob demanda. Sim, além de publicar e distribuir seus e-books, a própria Amazon pode imprimir seu livro em papel, vendê-lo e entregá-lo a seus leitores. Certamente, publicar diretamente na Amazon usando a ferramenta KDP seria a melhor, mais rápida e mais fácil solução… se não tivessemos dois problemas:
- Por mais absurdo que pareça, ainda não temos um Centro de Impressão da empresa em nosso país. É o Centro de Impressão mais próximo, localizado nos Estados Unidos, que imprime e envia os livros aos seus leitores no Brasil. Este fato encarece o preço final ao consumidor e eleva o prazo de entrega dentro de nosso território.
- Há alguns atrás, a Amazon resolveu dificultar um pouco mais a situação para autores e autoras brasileiros: ela deixou de disponibilizar no website local da empresa os livros impressos e publicados pela sua ferramenta KDP. Na amazon.com.br os autores conseguem publicar diretamente apenas livros digitais (e-books) para serem vendidos em reais. Os livros em papel publicados e impressos diretamente pelo KDP por autores daqui do Brasil tem a opção de aparecer na amazon.com com seus preços em dólar americano.
Até hoje não compreendo essa situação, provavelmente causada pela pressão e lobby das editoras brasileiras. Elas sabem que, se existisse um centro de impressão da gigante americana por aqui, os autores poderiam com facilidade publicar, imprimir e vender em reais seu livros em papel — e muitos autores escolheriam a autopublicação em vez de se arriscar a cair na mão de certas “editoras”.
Outras alternativas para publicar livros impressos na Amazon do Brasil
Além de recorrer a uma das plataformas de publicação que citei acima, existe uma outra opção para usar a Amazon para vender seus livros. Seria uma solução mista: imprimir uma pequena tiragem de seu livro (100 a 300 exemplares) via impressão digital em gráfica de sua escolha e usar a Amazon apenas para exposição e venda — e você fica responsável por embalar, etiquetar e enviar o livro para seu leitor. Muitos autores independentes optam por esta alternativa. Veja mais informações no site da própria empresa: Como Vender Livros pela Amazon.
Outra opção é usar a Amazon não apenas para expor e vender seu livro, mas também empacotar, envelopar e entregar sua publicação ao seu leitor, usando o serviço de logística próprio da empresa americana.
Essas duas opções dão mais trabalho e são mais complicadas, mas dependendo de seu caso (e de sua disposição e paciência) podem valer a pena. Tudo é questão de ver, na ponta do lápis, qual solução mescla melhor conveniência e custo para você.
Organização e método compensam
Espero que esta sugestão — de dividir o planejamento, criação, produção e publicação de seu livro independente em etapas separadas e bem organizadas — tenha ajudado você a enxergar o nascimento de sua obra de uma maneira mais profissional. Certamente isso vai se refletir na qualidade final de seu livro. Afinal, não adianta investir tanto tempo em escrever um bom livro, mas se descuidar na hora de criar sua identidade comercial, diagramá-lo e produzi-lo, não é?
Desejo de coração muito sucesso para sua futura obra!!
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