Gostaria de compartilhar com vocês o projeto de redesign da capa do livro O Canto do Acauã de Ricardo de Campos Ferraz. O texto tem boas qualidades e a sinopse era bem interessante.
É uma ficção de aventura com toque de romance. A obra conta a história de uma menina muito rica, arrogante, mimada que a todos tratava mal. Ela sofre um acidente: seu avião bimotor despenca na floresta e ela fica dias e dias vivendo lá com a ajuda do piloto do avião, empregado de seus pais. A devoção deste empregado em ajudá-la e as agruras na floresta acabam por mudar sua visão da vida e ela acaba se entregando ao romance. O Acauã referenciado no título representa, segundo o autor, o espírito da floresta, o novo ambiente que promove a evolução emocional e espiritual da protagonista.
Apesar de procurar focar minha criação em capas de não-ficção (livros para desenvolvimento pessoal, profissional, além de livros técnicos), resolvi aceitar este trabalho quando o autor me enviou as capas anteriores que foram criadas para o livro.
As Capas Anteriores
Sendo bem sincero, fiquei supreso. Triste pensar que o autor pagou por duas delas. Todas as capas tem soluções bem amadoras.
- A primeira capa (à esquerda) foi feita pelo autor. Ela pouco remete a obra. Chega a ser indecifrável — o que seria esta mão dourada? A imagem escolhida reflete mais uma obra de terror/suspense do que uma ficção de aventura com toques de romance. Nada de floresta (ponto chave da história), nada de acauã. Também não ajuda a composição sem identidade, tímida, “sem sal”.
- A segunda capa tenta ser literal demais, tentando ilustrar toda a história na capa. E, por isso, acaba incluindo até um spoiler! Ela entrega o desfecho da história: mostra a realização do romance que só ocorre, como suposta surpresa para o leitor, no terço final do livro. O design do título não tem identidade, nem “tempero” e a ilustração tem qualidade técnica duvidosa (principalmente as feições das figuras humanas em primeiro plano).
Falando em figuras humanas, uma dica para vocês autores:
Afora romances bem populares (onde existe a necessidade de subestimar o leitor), evitamos identificar os personagens na capa. Mostrá-los claramente na capa impede que o leitor utilize sua imaginação para conceber a aparência dos personagens — justamente uma das grandes diferenças entre o cinema e a literatura.
- A terceira capa (à direita) é a mais próxima de uma solução profissional, mas peca na identidade e conceito visual. O uso apenas de uma foto realista de um acauã é um tanto direto demais, até frio e sem emoção. E mais: a composição centralizada, o recorte retangular da foto, o uso de uma imagem sem efeitos (crua e realista), a cor séria, acinzentada, sem vida e a fonte tradicional escolhida, fazem a obra parecer ao leitor um livro técnico sobre aves — e não um romance.
Uma solução profissional para a capa do livro
Na minha versão para a capa, procurei focar no ponto de “virada” da história, no ponto-chave: o acidente com o avião e a recepção do casal pela floresta que os abrigou. O pássaro acauã, o espirito da floresta, procuro representar como algo realmente metafórico, conceitual.
O objetivo é fazer um capa mais elegante e inteligente. Além de mais bela esteticamente. Abaixo as duas opções apresentadas ao autor:
E uma comparação do layout final aprovado pelo autor com as capas anteriormente feitas por ele e para ele:
Qual destas capas tem mais chance de cativar o leitor, de chamar sua atenção, de introduzi-lo de maneira competente ao clima da história e ao tema?
Se vc já sabe como responder esta pergunta, começa a compreender a diferença entre uma capa de livro profissional e uma capa feita pelo próprio autor ou por um designer inexperiente, amador.
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