Nesses anos todos, trabalhando como designer de livros, vejo que muitos autores e autoras chegam a mim com muitas dúvidas. Por isso, reuni aqui essas 5 dicas sobre capas de livros para ajudar vocês, que desejam lançar um livro independente.
Introdução
Sendo simples e direto: A capa é o principal elemento de toda divulgação de seu livro. Ela é a embalagem comercial de sua obra.
Sim, a capa de seu livro está muito mais ligada à marketing e vendas do que a parte editorial. É a capa que ilustra 100% das peças de divulgação de sua obra. É ela que vai atrair a atenção de seu leitor nas prateleiras das livrarias físicas e nas páginas da Amazon e criar o primeiro interesse pelo seu livro. Além disso, é a capa que reúne os outros três elementos mais importantes para o sucesso comercial de seu livro: o titulo, o subtítulo e o texto de apresentação de sua obra (que aparece na contracapa).
O profissional que tem a função de criar capas de livros é um designer editorial, um especialista que chamamos no mercado de “capista“.
A missão do capista é visualmente conectar seu livro ao seu leitor, chamando sua atenção. Este profissional estudou a fundo teoria e técnicas de design gráfico e comunicação visual e, por isso, está apto a traduzir de forma visual as intenções comerciais de seu livro.
Introdução feita, é hora de passar as 5 dicas para que você tenha uma capa de livro que realmente impacte seus leitores. Minhas principais recomendações são:
- Foco no leitor
- Defina o público de seu livro
- Simplicidade e objetividade
- Contrate o profissional certo
- Liberte seu capista
1) Foco no leitor
Um dos principais enganos que os autores cometem na hora de solicitar, analisar ou aprovar capas de livros é esquecer do leitor e focar em seu próprio gosto pessoal. Ou seja, o escritor se preocupa em satisfazer apenas suas próprias expectativas.
“Lembre: não encare seu livro como um presente para você mesmo. Seu livro é um presente que você está preparando PARA SEU LEITOR com muito carinho .”
Por isso, todo o processo de criação da capa de um livro deve ser focado principalmente em encantar os leitores. Não em apenas satisfazer os desejos do próprio autor. Até porque, muitas vezes o perfil do autor é bem diferente do perfil do público-alvo.
Exemplo prático:
Imagine um professor acadêmico de 75 anos, médico renomado e já consagrado, casado, com filhos e netos, escrevendo um livro focado em alunos do primeiro ano do curso de Medicina, ou seja, jovens de 18, 19 anos com outras preocupações e objetivos. Pergunto: O livro deve se conectar com um senhor de 75 anos ou um jovem de 19 anos? A capa de livro deve impactar e chamar a atenção do autor ou do público?
A capa deve ser criada com métodos eficientes baseados em critérios estéticos, técnicos e comerciais mais assertivos, ou seja, parâmetros focados no mercado, na identidade da obra e no perfil do público-leitor — sem depender tanto de fatores subjetivos como gosto pessoal, opinião ou intuição.
Por isso, capista e autor, devem trabalhar juntos: Ambos unindo forças para agradar OS LEITORES, os potenciais compradores de seu livro. Assim seu livro terá muito mais chance de sucesso.
2) Defina o público de seu livro
Você compreendeu que as capas de livros devem ser focadas no leitor, certo? Então, certamente precisamos saber muito bem quem é este leitor, definindo o público-alvo específico de seu livro.
Abandone a sedutora ideia que seu livro é para TODAS AS PESSOAS que se interessam por aquele determinado assunto. Não, não é.
Seu livro apresenta linguagem, ritmo, vocabulário e até exemplos práticos que sintonizam melhor com um tipo específico de público. Ninguém consegue escrever um livro de não-ficção que agrade igualmente todos os tipos de públicos.
É por isso que vc precisa compreender qual é o PÚBLICO IDEAL para seu livro. E não se preocupe: definindo um público ideal, de maneira nenhuma você vai excluir os outros perfis de público. Vai apenas deixar a identidade de seu produto, sua comunicação e divulgação mais focadas e eficientes. Quanto melhor definir de forma precisa o seu “leitor ideal”, maior será a chance de encantá-los e vender mais livros.
Persona: o perfil de seu leitor ideal
Comece imaginando o perfil de leitor que mais necessitaria de seu livro ou aquele que mais se beneficiaria com seu conteúdo. Além disso, imagine esse perfil como uma pessoa existente. Em marketing, chamamos essa personificação do consumidor de “persona”.
Crie a persona que representa seu leitor. Faça isso definindo as principais características do leitor ideal para sua obra. Estabeleça o gênero, a faixa etária, a escolaridade, a classe social, a localização geográfica, os hábitos de leitura, o tipo de profissão. Liste também as principais necessidades que este público apresenta em relação ao tema de seu livro. Além disso, identifique os desejos e ambições deste público e os principais obstáculos para que eles encontram para preencher esses objetivos.
Exemplo prático:
Meu público prioritário são mulheres na faixa de 35 a 45 anos. Moram na região Sudeste do país. Pertencem à classe A/B e tem formação superior.
Mônica tem um perfil independente. É profissional liberal, divorciada e têm dois filhos pequenos, de 6 e 9 anos. Ela encontra grande dificuldade em equilibrar sua vida profissional com a vida familiar. Por ser muito atarefada, tornou-se uma mulher muito prática e objetiva. Mesmo assim, não consegue cuidar direito de sua alimentação e saúde, deixando em segundo plano seu autocuidado. Como lazer adora passar tempo de qualidade com seus filhos, mas não encontra tempo para esportes ou passeios culturais. Quanto a seus hábitos, gosta de cinema, mas acaba assistindo filmes em casa mesmo, principalmente, comédias românticas e documentários. Está acostumada a comprar livros de desenvolvimento pessoal de autores como Leandro Karnall e Mario Sergio Cortella, além de livros técnicos relacionados à sua profissão.
Conhecendo o perfil de seu público, não só seu livro será criado com foco, como seu capista poderá escolher a linguagem visual ideal para conquistar este leitor específico. Assim, a capa criada vai cativar seu leitor de forma muito mais envolvente e relevante.
3) Simplicidade e objetividade
A capa é o principal elemento da divulgação de um livro. Por este motivo é um elemento de percepção rápida com o objetivo principal de despertar a curiosidade do leitor ao primeiro olhar. Capas de livros não são obras de arte para serem analisadas de maneira lenta e racional. Capa de livro é comunicação. Principalmente no segmento de livros de não-ficção, foco deste blog.
Para atiçar rapidamente a curiosidade e despertar o interesse do seu leitor, a parte visual das capas de livros devem ser simples e objetivas e oferecerem sempre uma conexão rápida com o leitor. Por isso que um bom projeto de capa apresenta poucos componentes. Normalmente foca em um elemento visual forte e alguns elementos de apoio que ajudem a dar contexto ao componente principal.
Infelizmente, poucas editoras explicam isso para seus autores. Muitos autores, empolgados com a própria obra, querem colocar toda uma narrativa visual na capa. Buscam representar ou resumir o conteúdo de seu livro ou explicar de maneira redundante o título da obra. Para isso, querem utilizar ilustrações complexas cheias de elementos ou um conjunto de várias fotos para contar toda uma história. Alguns autores tentam utilizar na capa gráficos e diagramas técnicos para apresentar ou explicar sua teoria ou método — algo que deve ser feito nas páginas do livro, nunca na capa.
O resultado para o leitor é o excesso de informações visuais! Essa quantidade de informação é muito difícil de ser interpretada rapidamente. E, diante de muita informação para decodificar, a chance do cérebro simplesmente ignorar esta capa é grande. Lembre que nossa mente sempre trabalha em estado de economia de energia. Se quer que seu livro chame a atenção, procure facilitar a vida de seu leitor.
É importante que o autor compreenda que a capa de livro não serve para resumir, explicar ou sequer antecipar muitas informações sobre a obra. Serve sim para impactar, instigar a curiosidade e atrair a atenção do leitor.
Lembre desta dica: é mais efetivo para destacar seu livro e instigar o leitor optando por escolher UMA imagem bela e cativante para a capa do que diluindo a atenção do leitor com um conjunto de seis fotos diferentes, tentando deixar o leitor “informado” na capa.
O maior equívoco de um autor é buscar na capa um apelo racional. O visual da capa deve se conectar ao leitor em um nível emocional, mais profundo e inconsciente.
4) O profissional certo
A menos que esteja produzindo um livro sem intenções comerciais e com baixíssima tiragem para distribuir apenas para amigos ou familares, você vai precisar de um capista profissional.
E, mesmo contratando um profissional, vejo autores obterem resultados ruins por desconhecerem os critérios para a escolha de seu capista.
Seguem algumas dicas:
- Procure sempre contratar um designer gráfico com boa experiência no mercado editorial. Este profissional é conhecido como designer editorial. Lembre: não adianta o profissional ser ótimo em criar marcas, logotipos, folhetos e websites, se ele não tem um amplo portfólio mostrando a criação de capas de livros.
- Analise sempre o histórico, a experiência e o portfólio de capas do profissional. Busque competência, boa comunicação e bom atendimento. Analise também se o custo é compatível com o nível e experiência do profissional.
- Contrate um capista com boa experiência no mesmo tipo de livro que está planejando publicar. Se você pretende publicar um livro sobre política internacional, não adianta contratar um designer que tenha trabalhado apenas em livros de romances adolescentes. E vice-versa!
5) Liberte seu capista!
Muitos autores, por falta de experiência na área editorial, abordam o designer capista com uma ideia fechada e pronta:
“Olha, Rubens, quero uma capa azul, com titulo bem grande e centralizado. Gostaria que ela tivesse uma foto de um executivo correndo. Atrás dele um relógio com os ponteiros andando muito rápido”
ou
“Rubens, já tenho uma capa pronta que eu mesmo criei. Você pode fazer uns ajustes e melhorias para deixá-la mais profissional?”.
Certamente é indispensável que o designer responsável pela capa compreenda a visão do autor ou autora sobre seu próprio livro e que o cliente possa fazer sugestões ao capista. É sempre importante a participação ativa dos autores no processo de criação.
Mas, ao procurar o capista profissional já com uma ideia fechada na cabeça, o escritor acaba limitando a capacidade do designer profissional de criar a solução ideal para o livro. Ou seja, criar uma capa que tenha uma mensagem impactante, comercialmente eficiente e que chame realmente a atenção do leitor em meio aos muitos livros concorrentes.
O autor independente é um grande conhecedor de sua própria obra, de seu texto e também do tema que trata em seu livro. Mas, ele precisa reconhecer que, geralmente, tem pouco conhecimento sobre o mercado editorial e livreiro. Além disso, apresenta nenhum conhecimento sobre design gráfico e comunicação visual.
Ao contrário do que muitos acreditam, o papel do designer não é apenas “embelezar” a ideia do autor. Na verdade, sua missão é criar todo o conceito da capa para que ela represente sua mensagem da maneira mais impactante possível.
Um “causo” prático:
Nunca me esqueço de um autor que chegou até mim com uma ideia pronta. Como profissional experiente, percebi claramente que era uma ideia um pouco óbvia, até imatura para o segmento editorial do livro. O que ele propunha sequer tocava no verdadeiro conceito-chave que valorizaria a obra aos olhos do público. Em outras palavras, era uma ideia que subestimava muito seu próprio leitor. Quando perguntei se ele estava aberto a outras sugestões, ele respondeu:
“Não, Rubens, esta ideia me veio em um sonho e, por isso, tenho certeza que é perfeita para meu livro”.
Sendo sincero, fiquei sem respostas diante desse argumento. Sem graça, eu apenas agradeci pelo interesse em meu trabalho e, educadamente, indiquei outro profissional para ajudá-lo.
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